Esse trabalho tem por objetivo analisar as transformações nos processos migratórios da Argentina para o Brasil nos últimos vinte anos. O uso combinado de diversos registros administrativos produzidos pelo governo brasileiro permite visualizar diferentes modalidades migratórias que representam distintas faces das transformações advindas da reestruturação produtiva na região. Para compreensão de deslocamentos populacionais cada vez mais polarizados, essa pesquisa vale-se de uma periodização na qual são discriminadas três principais ondas na migração argentina para o Brasil, no decorrer desse século: a primeira, concentrada na primeira década, marcada pela migração de maior qualificação profissional; a segunda, entre os anos de 2010 e 2013, quando as dinâmicas específicas das migrações Sul-Sul começam a se tornar mais evidentes; e a terceira, vigente desde 2014, caracterizada pela chegada de uma população inserida em grupos ocupacionais de menor especialização, com presença inclusive de refugiados e solicitantes de refúgio. Além de explorar as principais características sociodemográficas desses três momentos das migrações da Argentina para o Brasil, o texto reforça alguns dos desafios teóricos inerentes a essa análise, sobretudo os que dialogam com a redefinição de suas fronteiras e com o esgotamento das explicações orientadas pelo nacionalismo metodológico para compreensão desses processos.