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IMPACTOS DA PANDEMIA COVID-19 NA VIDA DE MÃES PERIFÉRICAS DO DISTRITO FEDERAL: trabalho, cuidado e estratégias de sobrevivência
MORAES, Gabriela Rodrigues. - Doutoranda em Sociologia (PPGSOL/UnB), Mestra em Política Social (PPGPS/UnB) e Assistente Social (SER/UnB).
LOBATO, Danielle de Castro Silva. - Doutoranda em Ciências Sociais (ELA/UnB), Mestra em Ciências Sociais (ELA/UnB) e Cientista Social Bacharel e Licenciada pela Universidade de Brasília.
III Congreso Internacional de Ciencias Humanas. Escuela de Humanidades, Universidad Nacional de San Martín, Gral. San Martín, 2024.
  ARK: https://n2t.net/ark:/13683/esz9/zUD
Resumen
Apresentação do tema e da pesquisa Segundo as interpretações históricas e socioculturais dos papéis dos indivíduos na sociedade, as mulheres estão biologicamente destinadas a maternidade. Logo, as imbricações deste destino atravessam dimensões da vida social, econômica e psicológica das mulheres. Em uma sociedade marcada pela desigualdade de gênero, o cuidado e a realização das satisfações das necessidades do outro torna-se uma responsabilidade atrelada majoritariamente as mulheres (Hirata, 2022). Ou seja, as demandas de cuidados com o parceiro, serviços domésticos, filhos e família demonstram não apenas a assimetria das responsabilidades, mas a sobrecarga em alguns corpos (Guimarães e Hirata, 2020). O que temos é uma associação do cuidado como reprodução social em que as noções de maternidade estão ligadas a um projeto do que é ser mulher. Durante a pandemia de Covid-19, essas questões se entrelaçaram de maneira a exacerbar vulnerabilidades históricas, especialmente para as mulheres negras e em situação de pobreza. A pandemia leva a um agravo do acúmulo de tarefas domésticas, aumento da violência de gênero, insegurança financeira, aumento da dificuldade de autocuidado físico e mental, dentre outras condições que permeiam o cotidiano de mulheres que enfrentaram tais condições durante o período da crise sanitária mundial (Quintans et. al., 2021). Portanto, para além dessa crise sanitária, a pesquisa busca compreender de que forma a pandemia aprofundou as desigualdades vivenciadas por mulheres mães de periferia, bem como as estratégias adotadas por essas mulheres para viver, sobreviver e contornar as adversidades impostas nesse período. A partir de um recorte geoespacial de mulheres moradoras de São Sebastião – uma região administrativa localizada há 20km do centro de Brasília – buscaremos identificar quais foram suas próprias percepções sobre trabalho, cuidado, saúde e família, além das práticas realizadas no território dos condenados da terra (Fanon, 2022) para contornar as dificuldades que advém das relações de poder de gênero, classe e raça e atuam de maneira interseccional (Crenshaw, 2002) na produção e reprodução histórica das desigualdades.   Metodologia e procedimentos A natureza qualitativa da pesquisa (Deslandes, 1994), ancorada na perspectiva teórico-metodológica da interseccionalidade (Collins e Bilge, 2020), nos possibilita compreender as múltiplas determinações dos contornos que a pandemia tomou a partir das estruturas de poder e, por isso, será empregada na análise dos dados que foram estruturados nos seguintes eixos: emprego, saúde mental, serviços de saúde, cuidado, maternidade, benefício social, moradia e filho. Os eixos auxiliaram na condução das rodas de conversa que fizemos com cerca de 70 mulheres em 8 encontros realizados entre janeiro e agosto de 2024, em que ouvimos as histórias de vida das mesmas. Essa técnica, do ponto de vista prático, além de dinamizar as trocas entre pesquisadoras e as próprias participantes, também permite que as mulheres se sintam mais motivadas a falar após a intervenção de uma outra mulher que a contempla, ou que ela não concorde e se sinta motivada a expor sua impressão, ao mesmo passo que a dinâmica pode inibir a participação de algumas participantes (Adamy et. al., 2018). Já do ponto de vista teórico, pesquisas que objetivam captar impressões e sentimentos que envolvem o ponto de vista dos interlocutores tem um vasto campo a ser explorado, como um universo de significados e representações que enriquecem a pesquisa social e a teoria crítica a que alicerça (Minayo, 2002). De maneira a complementar, foi aplicado questionário estruturado em 30 perguntas que foram respondidas por 74 mulheres. Esse questionário incluía dados sensíveis em relação a trabalho, cuidado, pandemia, transporte, escolaridade, renda e raça/cor. Essa técnica é essencial para uma análise de tendências e padrões em relação a população da cidade e a amostra estabelecida, a fim de oferecer dados representativos para generalizações da realidade dessas mulheres. O formulário permitiu alcançar um número maior de participantes, sendo respondido no formato online e presencial, além de ser uma ferramenta acessível para compartilhamento entre grupos que já possuem atuação na região de São Sebastião. Por fim, será feita a análise que transversalize tanto os aspectos qualitativos da pesquisa a partir do relato das interlocutoras e sua relação com a literatura especializada do tema, quanto os dados quantitativos, coletados a partir do formulário como instrumental metodológico, que subsidiará tendências e características da amostra da pesquisa. Esse processo será guiado pela análise de conteúdo (Bardin, 1977) onde os dados coletados serão interpretados à luz da teoria crítica e reflexiva sobre as estruturas que circunscrevem as dinâmicas sociais das interlocutoras.  Resultados preliminares A pesquisa compreende a dinâmica de mulheres mães durante a pandemia de Covid-19 na cidade de São Sebastião-DF, para mapear as estratégias de cuidado, proteção, realização financeira, revezamento de responsabilidade com filhos e dinâmicas familiares que essas mulheres vivenciaram durante o período de 2020 a 2022. O território em questão é ocupado majoritariamente por mulheres (com 51,2%) e pessoas negras (60,8% parda e 11,9% preta) (IPEDF, 2021), retrato que nos permite observar estratégias que essas mulheres encontram para sobrevivência, manutenção de seus contratos de trabalho e vida familiar. Os nove grupos focais realizados exploraram opiniões, subjetividades e percepções em profundidade que produziram 115 páginas de transcrição de áudios e representam as vozes das mulheres sobre as suas vivências enquanto mães, periféricas e moradoras de São Sebastião. Enquanto pesquisadoras, esse torna-se um dos momentos mais ricos da pesquisa, pois trouxe a possibilidade de troca de saberes e experiências, apreensão de dinâmicas locais e de acolhimento recíproco, além das redes de solidariedade que essas mulheres estabelecem para apoio mútuo, demonstrando assim a potência do ativismo dessas mulheres. A segunda parte da pesquisa consistirá em analisar os dados e informações coletadas, subsidiada pela análise de conteúdo (Bardin, 1977), com uma visão ampla e detalhada do tema pesquisado. Sendo assim, os dados preliminares consistem na produção, registro e sistematização das informações coletadas e, em um segundo momento, será realizada uma investigação para a produção teórica das informações em formato de livro, dando suporte a elaboração de políticas públicas e intervenções sociais mais inclusivas, auxiliando na construção de soluções não apenas para as sujeitas, mas com o envolvimento das mesmas. Pretendemos contribuir com as agendas de pesquisa no campo dos cuidados, maternidade e desigualdades de modo que as experiências de mulheres mães no contexto periférico sejam a chave analítica para se pensar os serviços prestados e aqueles não garantidos nas margens do Estado (Das; Poole, 2008), o território em que essas mulheres ocupam em termos de infraestrutura e convivência social, as formas de trabalho e emprego e as desigualdades raciais e de gênero, pois, o detalhamento, coleta de informações e o mapeamento são estratégias necessárias para dar luz às desigualdades sociais e materiais dessas mães de São Sebastião, e assim ter ferramentas para elaboração de políticas públicas.  Considerações finais A pandemia de Covid-19 aprofundou desigualdades históricas conformadas pelas estruturas de classe, raça e gênero demonstradas, entre outras dimensões da vida social, pela queda vertiginosa da renda e precarização das condições de vida (Lima; Milanezi, et. al., 2020), sobretudo entre mulheres negras e pobres. As relações sociais desiguais resultantes da intersecção entre raça, classe e gênero (Collins, 2015; Akotirene, 2019) tomaram novos contornos durante a crise sanitária que, diante da tragédia lembrada, foi duramente encarregada por mulheres negras no Brasil e, não diferente, no Distrito Federal sendo a capital do país. Conforme dados da Rede de Pesquisa Solidária, a crise social e sanitária aumentou a insegurança alimentar, o desemprego e o número de óbitos de mulheres negras, que também possuem “maiores chances de mortalidade pela covid-19 em comparação aos homens brancos em praticamente todas as ocupações de menor instrução, como também são maiores as chances em relação às mulheres brancas” (Prates; Lima, et. al., 2021). Sendo São Sebastião uma região periférica de Brasília, as constantes sociais em relação a desigualdade de classe, raça e gênero são reproduzidas in loco. As mães relatam sobrecargas, adoecimento emocional e mental, abandono parental dos filhos, falta de assistência na rede pública, demonstrando que essas condições são multideterminadas e afetam diretamente sua qualidade de vida e oportunidades de mobilidade social. A elaboração de políticas públicas que possibilitem o acesso efetivo a creches para crianças até 3 anos, escolas de educação infantil e serviços de saúde como hospitais, unidades de saúde da família e pronto-atendimento na região, além da ampliação do contingente de funcionários especializados para essas instituições, somadas a criação de novos espaços voltados para o bem-estar materno enquanto projeto político da cidade, é de extrema relevância para que as demandas dessas mulheres sejam integradas às ações do Estado. Por fim, o fortalecimento de redes de apoio comunitário a partir de grupos de suporte mútuo entre mães da região, que promovam solidariedade e canais de diálogo e troca a partir da perspectiva do autocuidado, pode ser uma importante chave para aspectos ligados à maternidade e o compartilhamento do cuidado, uma vez que visam o bem-estar dessas mulheres a partir das suas próprias realidades e particularidades, e convocam o Estado como ente necessário no apoio e subsídio de práticas e ações que visam o bem viver e que já ocorrem de maneira descentralizada, não institucional e espontânea, nas ações de mulheres do território.
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