O presente estudo discorre sobre a tese de que a universidade contemporânea é constituída para ser o espaço-tempo na reprodução social das desigualdades inerentes à manutenção do capitalismo, e que perpetua as formas hodiernas de exploração das classes produtivas em benefício dos privilégios das classes detentoras do poder de decisão político-econômica. As representações do sistema capitalista, como indispensável para o desenvolvimento, com base em ideias fixas de produção sobre a exploração abissal da classe trabalhadora, de promotor a ascensão social por meio de mérito pessoal – desconsiderando o contexto e a origem social –, ou da forma insustentável de exploração dos recursos naturais, são as suas próprias contradições no interior de sua existência. No contexto do capitalismo neoliberal, a universidade também pode ser a instituição responsável pela constituição do desenvolvimento social através da mediação dos interesses sociais, isto é, fundada e referenciada socialmente em uma cultura democrática e participativa da classe produtiva. Mas, enquanto se adere ao empreendimento universitário como uma “organização social”, isto é, revelada por modos de ser do laissez faire, muito pouco, ou nada há que se objetar. Portanto, é necessário lançar mão de proposições capazes de perceber as contradições no interior do próprio sistema capitalista, demonstrando através da síntese dialética de que outra maneira de constituir a educação universitária é possível. Para tal, a pesquisa visa apresentar breve contextualização da internacionalização da educação superior no espaço geopolítico da América Latina, especificamente Argentina e Brasil, para evidenciar que já existem possibilidades visualizadas e sendo construídas no horizonte, onde a sociedade seja a própria reformadora da universidade, com vistas a constituir a universidade real. Na realização deste estudo, utiliza-se da metodologia de abordagem teórico-bibliográfica de natureza qualitativa. Entender este contexto implica compreender que o atendimento de interesses econômicos e políticos de agendas internacionais permeiam um confronto dialético com a soberania do Estado e da sociedade civil, assim como os interesses emancipatórios que convergem e divergem a partir das críticas ao neoliberalismo, tanto como de uma nova atitude reflexiva mais profunda em torno dos ideais que foram promovidas no seio da modernidade fundada nos alicerces de individualização, compartimentalização e progressos que se dão numa lógica capitalista que exclui os menos favorecidos e permite mais privilégios às minorias burguesas. A síntese reflexiva convida para pensar que na própria dinâmica política da universidade, constituem-se as possibilidades de construção de uma universidade plenamente real, e que oriente sua atuação para o referente social, isto é, que frutifique possibilidades concretas de mudança e transformação social da realidade desigual entranhada na gênese fundacional de muitos países do espaço latino-americano. Sendo assim, esse artigo conclui sua linha de articulação argumentativa defendendo que outra forma de pensar a universidade é possível, mas somente se for por uma via dialética, participativa e referenciada no exercício de mediação com a sociedade.