Este estudo teve como objetivo explorar a influência de algumas características da personalidade nos processos de aprendizagem produzidos pela interação social e com a introdução sistemática de conflito sócio-cognitivo, em conteúdos operatórios e de procedimentos. É comum ouvir que não se pode negar a influência da personalidade, das características afetivas e emocionais nos processos de aprendizagem. Apesar de pesquisadores e profissionais aceitarem sua interação na elaboração de conhecimento, e disporem de dados isolados entre alguns traços e algumas características particulares da personalidade e o desempenho acadêmico, não dispõem de modelos que forneçam explicações convincentes do fato ou das relações básicas entre eles. Embora não existam pesquisas específicas sobre o tema, há algumas que exploraram as relações entre força do ego e aprendizagem, em termos de desempenho acadêmico. Por exemplo, Sisto, Brenelli, Fini, Oliveira & Souza (1997) estudaram até que ponto diferentes graus de integridade do ego estariam relacionados ao desenvolvimento cognitivo e ao desempenho escolar em matemática. Os resultados indicaram que os problemas emocionais não influenciaram o produto da aprendizagem da matemática. Numa pesquisa similar, mas com outro conteúdo escolar, Sisto, Oliveira, Fini, Urquijo & Brenelli (1997) obtiveram resultados que sugeriram que o nível de integridade do ego estaria influindo na aquisição da escrita. Crianças com um ego mais fraco tiveram uma quantidade de erros maior que as crianças que não apresentaram indícios de fraqueza. Nesse contexto, o interesse central deste estudo ficou definido como a exploração da influência das características da personalidade na aprendizagem, procurando as relações que possam existir entre os níveis de aprendizagem atingidos por crianças em situações de conflito sócio-cognitivo e a força do ego, os níveis de tensão e de ansiedade e as intensidades das compensações utilizadas. Assim, espera-se que os sujeitos com níveis superiores de aprendizagem apresentarão uma tendência a dispor de traços de personalidade mais equilibrados, ou seja, um ego mais forte, evidenciado por uma identidade mais integrada e a ausência de mecanismos de defesa maníacos, com níveis inferiores de tensão e ansiedade, e compensados normalmente. Conseqüentemente, as crianças com uma aprendizagem menor, apresentarão um ego mais fraco, caracterizado por uma identidade desorganizada e mecanismos de defesa maníacos, com níveis maiores de tensão e de ansiedade, compensados patologicamente. O objetivo do estudo foi estudar a influência da personalidade, do ponto de vista psicodinâmico, na aprendizagem resultado de uma interação social com a produção sistemática de conflito sócio-cognitivo, em conteúdos operatórios e de procedimentos. Os resultados indicaram a existência de relações estatisticamente significativas entre aprendizagem e força do ego. A diferença de aprendizagem entre grupos experimental e de controle, estatisticamente significativa em ambas experiências, pode ser atribuída aos efeitos produzidos pela intervenção com interação social e exposição ao filme. Houve aprendizagem, no sentido de mudanças no comportamento dos sujeitos que se mantêm no tempo. Entretanto, os produtos da aprendizagem não foram uniformes em todos os sujeitos, nem nos dois conteúdos (operatório e de procedimentos), ficando evidente que nas crianças que trabalharam com as formas possíveis de uma realidade parcialmente escondida as mudanças foram em maior quantidade do que as aprendizagens observadas na experiência com a conservação de comprimento.